domingo, 22 de março de 2009

A vagabundagem que transcende


Tive a oportunidade de visistar o Museu Kafka em Praga.


Nunca imaginei encontrar naquele museozinho pequeno e escuro, situado em num beco tranquilo, às margens do Vltava, um vagabundo à imagem e semelhança dos vagabundos públicos tupiniquins...


Aquele homem já esboçava minhas poses sentado à mesa de trabalho; e assinava requerimentos de justificativa por falta ao trabalho tal como hoje eu faço... até mesmo nossas motivações coincidiam: "me sinto indisposto"!


Isso leva a cogitar se ser um burocrata, um vagabundo, um servidor público não seria algo mais do que simplesmente ocupar um cargo, e receber para vegetar.


Estou cada dia mais inclinado pela idéia de que ser burocrata se trata de um estado de espírito. Trata-se de se reconhecer fracassado todos os dias nas horas-mortas do expediente; pensando sobre o que não foi e sobre o que não será...


O seguinte trecho de "O amanuense Belmiro" ilustra isso de forma bastante melancólica:


"O velho que se assenta a meu lado tem trinta anos de serviço, já recebe adicionais e ainda acredita que nasceu para o brilho da Igreja. "Se não tivesse deixado o seminário talvez fosse bispo!" (...) Acolá, o outro, o Romualdo, que já requereu contagem de tempo para aposentadoria, com todos os vencimentos, suspira, cada dia, à hora de encerrar-se o expediente: "Eu dava era para a política. Tinha jeito e tive padrinhos. Mas não tirei a carta de bacharel, casei-me antes de tempo e aqui estou vegetando..."


KAFKA, CYRO DOS ANJOS, eu e tantos outros...Há algo no serviço público que transcede tempo e espaço. Retirando esses homens da vida, e jogando-os todos numa repartição, cinzenta e triste, onde estarão condenados a vagabundar eternamente... com direito a cafezinho!

4 comentários:

  1. Nossa pior do que está fardado a viver em uma vida eterna de vagabundagem com direito a cafezinho, seria se tornar o MUMM-RA...(uma múmia com a frase patética de um desenho da década de oitenta) rsrs

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  2. Hah! E está música da muito preguiça...

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  3. Vc pegou bem a idéia... O servidor público enquanto múmia!

    Sempre pensei em múmias, mortos-vivos e zumbis como uma metáfora para os burocratas.

    Aliás penso nisso todo dia quando vem a mulher do Repartição ao lado vem usar a máquina de xerox.

    Ela tem a cara toda repuxada, e carrega nos braços uma tranquera de bugingangas, tal qual as múmias egípcias...

    Cinquenta anos de proventos estão ali naquelas jóias e naquela cara esticada por cirurgias plásticas...

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