segunda-feira, 30 de março de 2009

A dança das gavetas


"Limpem hoje mesmo todas as suas gavetas", ordenou o chefe.

Logo pensei: "Finalmente seremos despedidos... A razão triunfou e perceberam nossa inutilidade... Extinguirão a Repartição inteira em nome da eficiência e da moralidade... Demolirão esse prédio velho e mofado e construirão um parque em seu lugar".

Como de costume eu estava equivocado.

Deveríamos desocupar as gavetas pois pela manhã do dia seguinte as mesas seriam trocadas por modelos mais modernos.

Havia gostado tanto da troca das cadeiras (ver o post "A dança das cadeiras"). No entanto, essas mesas me cheiravam a superfaturamento e licitações fraudadas. Afinal, de onde eles tiravam, em tempos de crise, tanto dinheiro para remobiliar todas as repartições?

Por outro lado, por que não dar uma boa repaginada na boa e velha repartição? Ora o que havia de tão errado nisso?

Só porque as pessoas que trabalham aqui são feias e relapsas não quer dizer que os móveis também devam ser feios e de má qualidade...

Alternado um misto de preguiça e desinteresse comecei então a empacotar as tralhas que ocupavam minhas gavetas.

Havia de tudo um pouco ali...

Papéis e documentos de todo tipo, colas com data de validade vencida, tesouras cegas, cupons de desconto para o China in Box, uma cartela de Finasterida pela metade, e até mesmo um preservativo intocado que deveria estar há ali anos...

Levei a tarde toda para ordenar e retirar aquilo tudo da gaveta. Mas no fim das contas até que fiquei satisfeito e orgulhoso com o trabalho que havia feito...

Aquela tralha toda sistematicamente organizada dentro de uma caixa, me abrira o apetite... Fui então comer minha esfirra com mate-couro...

Fora da Repartição, eu agora eu pensava sobre as mesas novas... Seriam verdes tal qual as cadeiras novas? Teriam elas suporte para copos de café? Seria o desing curvo?

Voltei do lanche com as energias renovadas e grandes espectativas em relação à troca...

Notei que agora as mesas antigas tinham uma etiqueta onde se lia "RECOLHER". Haviam colado essa etiqueta em todas as mesas, com exceção da minha. Na minha, a etiqueta dizia em letras garrafais: "NÃO RECOLHER".

Foi então que a ficha caiu...

Então todo o trabalho que eu havia feito durante o expediente inteiro fora em vão? E minha mesa fora a escolhida para continuar vegetando junto a nós por mais alguns anos?

Até que nem fiquei estressado com isso tudo!

Afinal, todos os dias o trabalho que eu faço é mesmo em vão... E todo mundo vive dizendo por aí que não se fazem mais mesas como antigamente...

8 comentários:

  1. é racional que vc não tenha ficado puto. Pense bem: se o trabalho diário da repartição é quase sempre em vão, o que haveria de ser a simples limpeza de uma gaveta perto dessa putaria toda?

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  2. Bem... como eu disse a limpeza foi bem complicada. Tinha muita coisa desorganizada por lá. Fiquei praticamente toda a tarde inteira trabalhando nisso.
    Não foi simples de forma alguma!

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  3. muito bom seu blog to lendo todo dia, voce é o primeiro a representar fielmento o nosso serviço público, e o melhor é nós cidadões deixamos isso acontecer debaixo de nossos narizes.
    parabéns, muito bom.
    ass: léo do sao joao batista

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  4. Muito bom! Li todos os passados e assinei!

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  5. OLÁ PESSOAL,
    Nem só de morbidez vivem os burrocratas! Ânimo, a Vida é bela, vamos para o lado positivo da coisa! Enquanto o trabalhador recebe l sálario mínimo a cada 30 dias, tem burrocrata que recebe l salário mínimo por dia durante os 30 dias do mês, e sem culpa alguma, tudo legalizado, no contra cheque.

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  6. Vamos mudar esta musiquinha fúnebre, os burroratas ainda não chegaram ao velório, estão vivos, mortos-vivos mas resistindo bravamente.

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  7. Matrus concordo com você. Nem só de morbidez vivem os burrocratas... Você me deu a uma ótima idéia... Vou mostrar o outro lado das Repartições.
    Em breve postarei algo sobre as alegres comemorações de fim de ano: os rodízios nas churrascarias e as festas organizadas pelo Sindicato.

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  8. Recentemente trocaram todas as mesas aqui do TJMG também, por outras modernas e anatômicas. Agora podemos ficar sem fazer nada orgulhosos de nossas mesas brancas como marfim, em formato de "L", com muito espaço para não colocarmos nada. Também tive que limpar minhas gavetas, e descobri amargurado que tudo que importava cabia num envelope de carta comum. O resto foi para o lixo...

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